quinta-feira, outubro 20, 2005

A sede de beijo ,a fome de toque....


Eram 09 horas e o despertador tocou. Tinha que se arranjar para uma entrevista de emprego depois da hora de almoço do outro lado da cidade.
Como sempre desligou o som irritante, que ela nunca percebeu porque o escolheram para acordar as pessoas.
- É por isso que as pessoas acordam sempre mal dispostas de manhã- pensava.
- Só mais um pouquinho- pensava ela, enquanto fechava os olhos pesados e aconchegava-se.
Acordou novamente às 11.00 por causa do barulho ensurdecedor que não parava de aumentar na rua.
- Maldita cidade- resmungava enquanto olhava para o relógio.
- Irra dormi demais hoje. E que dor de cabeça! Logo vou me deitar cedo e nada de fumar erva com o pessoal ou senão já sei q vai ser a mesma história amanhã- resmungava.
Levantou-se e olhou-se ao espelho que mesmo com manchas de ferrugem deivaxa transparecer os olhos borrados da maquilhagem que não tirou na noite anterior. Enquanto tirava a maquilhagem antes de tomar banho, observava lentamente o rosto ao espelho. Desde há um ano que sempre que se olhava ao espelho seu rosto entristecia. Sentia que os quase trinta anos transpareciam na sua pele, nas suas expressões da cara e especialmente dentro da sua cabeça. Tirou a camisola velha que usava para dormir e ainda sem os olhos bem abertos tomou um duche.
- Tenho que fazer algo, não posso continuar assim- murmurava.
Tomar um duche bem longo, vestir a melhor roupa que tinha e que ainda lhe servia, maquilhar-se, colocar o seu perfume favorito que estava prestes a acabar e sair.
Estava um dia chuvoso, e enquanto passava em frente a uma montra reparou que o cabelo que tinha esticado durante mais de uma hora estava a encaracolar. Enquanto no reflexo do vidro da loja dava um jeito ao cabelo reparou que a dois metros de si um homem fazia o mesmo e endireitava o fato. Olharam um para o outro e sorriram. Ele olhou para o relogio e caminhou tão rápido que ela apesar de segui-lo atentamente com os olhos, perdeu o no meio da multidão.

Era quinta-feira e faltavam cinco dias para o natal. As ruas estreitas da cidade estavam cheia de gente que aproveitava a hora de almoço para fazer compras de natal.
Estava desempregada. Desde há três meses que tentava encontrar emprego mas sem resultado. Sentia-se inútil, e a entrevista que teria nessa tarde não lhe entusiasmava.
- Não posso comprar nem uma prenda de natal! Nem uma!- murmurava ela, quando enquanto observava o andar apressado das pessoas. Uma lágrima caia no seu rosto molhado da chuva.
Sentia que os sonhos que tinha quando estudava Artes, em se tornar uma grande pintora tinham desaparecido. Enquanto caminhava pela avenida principal relembrava-se da grande oportunidade que perdera quando terminou o curso. A escolha que fez em preferir viver para uma nova cidade com o seu namorado e não em aceitar uma grande oportunidade de trabalho na cidade em que vivia. Viveu com o namorado quatro meses, mas rapidamente o sonho que tinha em ser feliz com ele e ter os seus quadros expostos numa grande galeria afundaram-se. O homem que julgava que seria o senhor perfeito, largou-a por uma economista de uma grande multinacional. Após dois anos e sem dar-se conta, estava sozinha, longe da familia e dos muitos amigos que tinha, sem emprego fixo e sem um homem ao seu lado.

Começou a chuver torrencialmente e decidiu entrar num café. Sentou-se numa mesa e pediu um expresso bem forte e um muffin de limão. Pegou num jornal e decidiu ficar sentada até a chuva diminuir. Faltava 1 hora para a entrevista, mas algo lhe dizia que não valia a pena. E decide não ir.
Após uma hora , a chuva continuava forte e quando pedia mais um expresso reparou que o homem que estava junto a si numa montra no início da tarde corria para dentro do café a fugir da chuva. Seu olhar cruzou-se com o dela. Sorriram.
- Que raio de chuva- dizia ele ao empregado do café
-Concordo consigo, e olhe que nas notícias diziam que a verdadeira tempestade vem lá para a noite!- afirmava o empregado.
- O que deseja? Uma bebida quentinha? Um expresso, chá?- perguntava.
- Um expresso cairia mesmo bem. E um muffin também se faz favor ... de limão- respodia.
O café estava cheio das pessoas que fugiam da chuva e sentavam-se para beber algo quente e esperar que a tempestade abrandasse.
O empregado enquanto arranjava o café, olha para as mesas e diz:
- Olhe o café está cheio, mas essa menina aí nessa mesa tão sozinha, talvez não se importe que o senhor se sente!
Ele olhou para ela embaraçado e perguntou:
- Importa-se?
- Claro que não. Esteja à vontade- respondeu ela.
- Meu nome é Patricia.
- E o meu é Fernando. Que dia mais triste não acha?- disse ele com olhar tímido, enquanto focava os seus longos e brilhantes cabelos.
- Sim, mas tenho a certeza que agora vai melhorar.... - contrapôs ela com um sorriso atrevido....